É sempre bom
deixar clara a diferença entre inovação e invenção, assim como entre evolução e
revolução.
Os primeiros
termos das comparações — inovação e evolução — são usados para descrever o
avanço e o aperfeiçoamento de algo já existente, já os segundos termos —
invenção e revolução —, determinam a criação de algo que nunca existiu, ou uma
mudança conceitual total baseada em uma necessidade, o que demanda um olhar
muito especial.
Pois bem,
aqui começa a história que culmina com a invenção da precursora de nossas
queridas motocicletas.
Daimler
Reitwagen, a primeira moto do mundo
Décadas
antes da revolução industrial, o homem estava impaciente quanto à melhor forma
de se mover para onde quisesse. O cavalo, o meio mais comum de transporte da
época era lento e entediante. O ideal
seria um cavalo que conseguisse galopar a toda velocidade sem se cansar, horas a
fio, dia após dia.
O primeiro a se aventurar nessa mudança foi um
barão, chamado Carl Von Drais, que colocou uma tábua entre duas rodas e
convenceu algum maluco a subir e se auto-empurrar com os pés nessa geringonça.
Outro
ângulo, para ver mais detalhes da Daimler Reitwagen
Você
percebeu que nada havia mudado? Além de se matar de empurrar a engenhoca,
aquilo acabava com as costas do sujeito, além de ser mais lento do que o
cavalo. Genial!
Calma, esse
foi só o começo... Finalmente, em 1861, durante a Guerra Civil Americana, um
francês resolveu instalar uma manivela e pedais na roda da frente da invenção
do Barão Drais, colocou um guidão e uma espécie de colher que pressionava a
roda traseira, hoje chamada de freio.
O “comedor
de croissants” se chamava Pierre Michaux. O então nomeado velocípede se tornou
um sucesso absoluto, e logo Monsieur Pierre começou a fabricar a “incrível”
marca de 400 peças por ano.
O projeto da
primeira moto da história, em desenho
O final do
século 19 foi marcado pelo uso do vapor como combustível, então, nada mais
natural do que pensar em adaptar uma caldeira à engenhoca de duas rodas. Mas,
propulsores a vapor eram extremamente grandes naquele tempo, o que parecia
inviabilizar o projeto.
Pierre,
então, chamou L. G. Perreaux para ajudá-lo, outro francês já havia inventado o
sistema de eclusas (obra que permite que embarcações subam ou desçam em locais
onde há desníveis) em rios, a arma de tambor com seis balas e a serra circular.
Perreaux criou um motor com um cilindro, dois tanques de água e uma caldeira
instalada perigosamente próxima do assento, que lembrava uma sela de cavalo.
A fumaça
produzida era lançada para trás através de tubos. Sim, escapamentos! A máquina
atingia 14,5 km/h, e por medidas de segurança o “Detran” da época começou
limitar a velocidade de 6,5 km/h no campo, afinal um cavalo, o rei da estrada
naqueles tempos, poderia ser atropelado ou incomodado com a fumaça.
Relato de
acidente com moto na época
A lei também
dizia que a pretensa motocicleta poderia desenvolver sensacionais 3,2 km/h nas
cidades. Entidades de trânsito parecem continuar com essa coerente lógica até
os dias de hoje.
Foi em 1882
que um visionário alemão, Gottlieb Daimler, decidiu experimentar uma combustão
interna com benzeno, também conhecido como “petrol”, produto usado para limpar
tecidos. Dois anos depois de árduo trabalho, o alemão e seu parceiro Wilhelm
Maybach construíram o primeiro motor refrigerado a ar, com um cilindro de 264
cm³.
Tentaram
instalar em uma carruagem, mas era muito fraco para empurrar o pesadíssimo
veículo de quatro rodas. Foi então que resolveram instalar em uma espécie de
quadro de motocicleta, proveniente do velocípede francês.
Claro que
motociclistas atuais rolariam de rir face ao produto final, chamado “one-track”
(mas pensem que também rirão de nós em 2115...). Um banco alto demais para que
o piloto alcançasse o chão fez com que rodinhas fossem instaladas ao lado para
não se esborrachar quando parasse.
O próprio
filho de Daimler, Paul, teve o assento incendiado no meio de uma viagem em 1885
por um defeito de projeto ou proximidade do motor às nádegas do rapaz. Problemas
atuais, como motoristas alcoolizados, estradas mal sinalizadas e
congestionamentos não eram as maiores preocupações, mas sim, um conjunto de
problemas totalmente ignorado por nós.
Em 2015, a
revolucionária invenção completou 130 anos
O maior
deles era o sistema direto de transmissão, que fazia com que cada vez que a
moto parasse o motor também interrompesse o ciclo de trabalho.
A máquina
utilizava as então chamadas válvulas “cogumelo” e produzia meio cavalo de
potência a 750 rpm. Daimler desenvolveu o “bluherohezuendung”, ou mais simples:
“tubo quente”, um método de ignição que consistia em um cano de platina
projetado dentro do cilindro que era esquentado por fora por um bico de bunsen
aceso.
O motor
possuía dois pêndulos fixados em cada um dos lados do virabrequim e era
encapsulado em um molde de alumínio. Maybach, o parceiro de Daimler,
desenvolveu também um carburador flutuante, e com o milagre da abundância de
combustível da época lançou a indústria de motocicletas para sua primeira
“real” era, o que logo propiciou empresas como Indian e Harley-Davidson
surgissem e prosperassem.
Criador e
criativa, imortalizados em museu
Voltando ao
que falamos no início do texto, Daimler e outros pioneiros da motocicleta,
merecem menção honrosa por serem hábeis inventores, construtores, e
empreendedores que mostraram ao mundo outra forma de olhar para o transporte
urbano sem a utilização de trabalho animal e abrir as portas para uma indústria
viável e próspera!
Por: Roberto
Severo
0 comentários:
Postar um comentário